domingo, 14 de julho de 2013

OPINIÃO: CING, medo justificado (Valter Batista)

Tenho   falado   há  muito  tempo sobre a decisão de apoiar a  implantação de uma unidade de produção  industrial da SAIPEM, no Complexo Industrial e  Naval de Guarujá  (CING). Trata-se de uma empresa transnacional de grande peso   no  mercado  global, em particular na cadeia produtiva do petróleo e gás. A aquisição da área da Nobara, por cerca de R$ 300 milhões, já sinalizava  que  sua intenção  era  muito  séri  em relação ao  plano de implantação de uma unidade de produção de tubulações para a construção de gasoduto no Pólo Pré-Sal.

A empresa realizou várias exposições de seu projeto por aqui. Divulgou que tem um contrato assinado com a Petrobrás e que tem prazos para iniciar a instalação desses dutos. E que o não-cumprimento dos prazos gerará multas milionárias.

Vamos voltar um pouquinho no tempo. Apenas para lembrar que quando o atual Plano Diretor de Guarujá foi feito, discutimos muito a vocação do CING, à luz das manifestações populares que pediam que aquela área fosse transformada em zona turística, impedindo que ali se instalasse um terminal de contêineres. Assim foi feito. Aquela área foi inserida como Zona 
Especial de Interesse Turístico, no Plano Diretor. Poderia ser alvo de projetos de ampliação de marinas, clubes, parques, áreas de lazer e até terminal marítimo, mas para a atracação de navios de cruzeiros, nunca de cargas.

A atual administração alterou este uso restrito. Caiu ou tentou nos fazer acreditar no canto da sereia da geração de empregos e do Pré-Sal, que seriam resultantes da chegada da SAIPEM. Sua defesa foi alegar que não haveria impactos pois os insumos necessários à atividade industrial ali implantada, entrariam por Santos.

A Câmara de Guarujá tentou por diversas vezes reunir os diretores da SAIPEM para apresentarem seus projetos em uma audiência pública oficial por aqui. Isso não aconteceu.

A empresa alegava que traria os insumos através de balsas, pelo Ferry-Boat - Ponta da Praia. A Câmara de Santos, pressionada pelos moradores daquele bairro, chamou a empresa a uma audiência pública e se posicionou, avisando-a que deveria abortar esta ideia. 

Eis o problema. Sem a opção das balsas, como levar toneladas de matéria-prima até o CING, sem passar pelo meio da cidade de Guarujá, cruzando bairros populosos e residenciais, como o Santo Antonio, Helena Maria, Santa Rosa e Astúrias?

Mediante este novo problema, a atual administração já procurou a Secretaria Especial de Portos e solicitou uma pequena faixa na orla portuária para instalação de área de embarque desses insumos, evitando que passem pelo sistema viário da cidade. Pediram, se não me engano, uma área de 20 a30 metros de visada, para atracação das balsas. Ainda não obtiveram resposta, uma vez que trata-se de área nobre para as atividades portuárias, dentro do Porto organizado, que só é pasível de ocupação através de licitação pública. Um mico, portanto, uma vez que o tempo está passando e os prazos do contrato da SAIPEM com a Petrobrás correm.

Com a nova Lei dos Portos, a empresa pode tornar o seu terminal num Terminal Portuário Privado, livre da CODESP, por exemplo. E operar qualquer tipo de mercadoria. Daí a nova polêmica. Uns acham que é exagero pensar que ali poderá ser instalado um terminal de contêineres ou de granéis. Outros, que é temerário e que corre-se este risco, sim. A questão é que a empresa já está se instalando. Seus caminhões de aterro cortam os bairros citados, diariamente. Deveriam ser apenas vinte por dia, mas se alguém parar ali na entrada do CING, vai contar muito mais do que duas dezenas. E a municipalidade tem deixado isso acontecer. 

Por enquanto é apenas aterro, mas o sistema viário já está sofrendo com buracos e afundamento do asfalto. Imaginem quando forem toneladas de matéria-prima, diariamente, o ano inteiro?

Como se imagina que esse problema vai se resolver? Respeitando a vontade da população ou os interesses maiores de uma das maiores empresas capitalistas do mundo e dos políticos omissos de nossa cidade, que até agora não realizaram uma só audiência pública para discutir este problema?

Sem mobilização popular, vamos ver a cidade rasgada por caminhões, aqueles bairros degradados e o valor dos imóveis em queda, como aconteceu com o Jardim Boa Esperança e como vai acontecer com a região dos predinhos da Dow Química, onde se pretende abrir uma nova rua do Adubo.

Ou a população se mobiliza ou teremos um problema sem solução pela frente!






Valter Batista de Souza, professor, 
especialista em Gestão Pública

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