Em 15 anos de profissão – cinco deles no transporte
público de Guarujá – o motorista de ônibus R., de 52 anos, nunca tinha sido
assaltado. Mas em março deste ano, em apenas uma semana, tudo mudou: ele foi
alvo de marginais duas vezes, na Vila Áurea, em Vicente de Carvalho. Nos dois
casos, os bandidos, que aparentavam ser menores de 18 anos, solicitaram a
parada do veículo como se fossem passageiros.
Na segunda ocorrência, ele levou um tiro no rosto. “O moleque mandou eu
levantar para me revistar. Ele deve ter achado que eu ia reagir e deu o tiro. A
sorte é que era uma garrucha de chumbinho e o estrago não foi grande”.
O saldo do crime para os bandidos: R$ 7,00, do caixa do ônibus. Já para o
motorista, três dias de internação, 15 dias de licença e um trauma para o resto
da vida. Ele conseguiu se recuperar, mas voltou ao serviço assustado, achando
que poderia ser assaltado de novo a qualquer momento.
O medo se confirmou um mês depois, em outra linha, na Estrada de Pernambuco. Um
marginal o ameaçou com uma faca e levou cerca de R$ 20,00. “Dessa vez pensei em
desistir. Tirei férias e resolvi voltar, contra a vontade da minha família.
Gosto do que faço, da empresa. Mas ainda me sinto assustado. Só faltam três
anos para eu me aposentar. Quem assalta ônibus não são os bandidões. É essa
molecada menor de idade”.
No final de julho, o suspeito que ameaçou R. com uma faca foi preso. Ele foi
reconhecido por 13 motoristas. Reiver de Araújo, de 19 anos, chegou a dizer que
cometeu os crimes porque “está no sangue”.
Dois por dia
Por mais assustador que possa parecer, o caso de R. está longe de ser incomum.
Entre janeiro e julho deste ano, 365 assaltos a ônibus foram praticados em
Guarujá. É o equivalente a 52 por mês – mais de um por dia. E o pior: o número
aumentou 92% em relação ao mesmo período de 2012, quando 190 veículos foram
roubados.
Além do trauma para motoristas e passageiros, a bandidagem provoca outra seqüela:
a demora dos ônibus.
Nesses sete meses, o transporte coletivo deixou de realizar 460 viagens por
causa de assaltos, já que os motoristas precisam ir a uma delegacia lavrar o
Boletim de Ocorrência.
Os números foram informados pela concessionária à Diretoria de Trânsito e
Transporte de Guarujá (Ditran),
No mesmo período, foram registrados 2.679 roubos em Guarujá, segundo dados da
Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo.
Ataques
Além dos assaltos, há ainda os casos em que os marginais incendeiam os ônibus. Isso
aconteceu com cinco veículos este ano. Esses episódios deixam na mão os
passageiros que moram em comunidades carentes: o transporte coletivo
simplesmente some, seja em determinados horários ou integralmente.
Segundo a diretora da Ditran, Quetlin Scalioni, isso ocorre por orientação da
própria Polícia Militar à Translitoral, a concessionária, para que não se
arrisque a vida de funcionários e passageiros. “Isso já aconteceu na Vila Edna,
Vila Zilda, Vila da Noite, Prainha”, afirmou.
Disso resultou até uma reunião entre Prefeitura, Translitoral e membros da
Associação de Moradores da Prainha, onde os ônibus não estavam circulando
depois das 18 horas. “O presidente da associação se comprometeu a interceder
junto à comunidade para pedir colaboração”. (Simone Queirós)
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