A partir do próximo mês, a taxa de natalidade poderá cair bruscamente em
Guarujá. Mães podem ser forçadas a procurar outros municípios para ter seus
bebês pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É que a Maternidade Ana Parteira, do
Hospital Santo Amaro (HSA), único de Guarujá, pode suspender esse atendimento.
De cada dez partos, oito ou nove são pelo SUS. A instituição também estuda
suspender atendimentos nos ambulatórios e as cirurgias eletivas a partir de
dezembro.
O motivo é a crise na qual se encontra a instituição, intensificada em
julho, quando a Prefeitura deixou de pagar o valor mensal de sua
contratualização (sua parte no financiamento dos serviços). A dívida, em quatro
meses, já chega a R$ 4,2 milhões.
“Pagando tudo em dia, já tínhamos um déficit mensal de R$ 922 mil por
causa da defasagem do SUS. O que nos ajudava eram os valores de convênio e
particulares. Só que, com a crise, os convênios também entraram em dificuldade,
e o valor que recebemos deles hoje é 50% menor do que no início do ano. A
situação está caótica”, afirma Urbano Bahamonde Manso, diretor presidente da
Associação Santamarense de Beneficência do Guarujá (ASBG), mantenedora do HSA.
Manso afirma ter procurado a Prefeitura, mas escuta como resposta,
apenas, que “é a crise”. “Precisamos pelo menos de um cronograma de pagamentos,
um plano que possa nos ajudar a aliviar essa situação. Estamos às vésperas de
uma temporada de verão, é um período limite. Ainda tenho esperanças de que não
precisaremos tomar essas medidas drásticas, mas, se a situação não se resolver
nos próximos dias, não terei alternativa. Será que vou precisar parar o
hospital para sermos incluídos como prioridade pela Prefeitura?”.
Segundo ele, o Município tem de repassar mensalmente à instituição pouco
mais de R$ 1 milhão – valor aproximado que cobre os serviços na maternidade,
ambulatórios e as cirurgias eletivas.
“A espinha dorsal de um hospital é a unidade de emergência, que
desencadeia em centro cirúrgico, Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e unidade
de internação clínica e cirúrgica. Se um desses elos se quebrar, o hospital
quebra. Então, só podemos cortar os atendimentos paralelos”.
Por paralelo, entendem-se também – além de maternidade, cirurgias
eletivas e ambulatórios – os atendimentos em hemodiálise e oncologia. “Nesses
não dá para mexer, pois também são urgentes. Por isso, a opção é pelos outros”,
afirma.
Ele afirma já ter procurado Conselho Municipal de Saúde, Ministério
Público, Câmara de Vereadores, Diretoria Regional de Saúde e se prepara para
levar a situação ao Conselho Regional de Medicina.
O diretor presidente adianta que a suspensão dos atendimentos vai
obrigá-lo também a diminuir o quadro de funcionários (hoje, 1.400) e as equipes
terceirizadas. “O corte de funcionários é terrível. Temos equipes muito boas,
que vão se desfazendo. E, depois, é difícil retomar a credibilidade junto a
essas pessoas”.
Salários
Devido à crise no Hospital Santo Amaro (HSA), o corte tem sido nos
salários dos médicos. A unidade tem enfrentado paralisação no setor de
traumatologia, e outras equipes já anunciam que vão parar de atender em
dezembro. A instituição tem mantido em dia os vencimentos da maioria dos
funcionários, mas pode haver protestos, pois não há previsão para o 13°
salário.
Crise afeta
“A crise financeira que afetou todos os municípios, somada à baixa de
arrecadação, comprometeu a regularidade do pagamento feito ao hospital. Não se
podem atribuir à Prefeitura todos os problemas financeiros do Hospital Santo
Amaro, uma vez que os planos de saúde têm débitos com a instituição”.
Assim diz a Prefeitura de Guarujá, em nota. Mas faz um contraponto:
“(...) o forte investimento dos últimos anos (...) foi fator determinante para
que o HSA voltasse a ter equilíbrio financeiro e conseguisse, depois de muitos
anos, a Certidão Negativa de Débitos (CND)”.
Segundo a Administração, o investimento anual do Município no HSA passou
de R$ 1,8 milhão, em 2008, para R$ 12,8 milhões em 2014. A previsão é a mesma
neste ano.
“O Hospital Santo Amaro é a primeira prioridade na área da saúde (...).
É o maior contrato da Secretaria Municipal de Saúde. Por mês, a Administração
repassa cerca R$ 3,4 milhões de verba vinculada (repasse federal SUS) e R$ 1
milhão do Tesouro Municipal. De janeiro a outubro deste ano, já foram
transferidos ao HSA pouco mais de R$ 40 milhões, sendo R$ 33 milhões (do) SUS e
mais de R$ 7 milhões dos cofres públicos”, alega a Prefeitura.
“(...) Aliás, a Maternidade recebe a verba SUS e mais R$ 300 mil da
Prefeitura, dentro do montante direcionado pela Administração ao Hospital. E a
Administração investiu cerca de R$ 4 milhões na reforma e ampliação no espaço
(...)”, menciona.
Parceria
Em meio à crise, o Hospital Santo Amaro (HSA) tem buscado parceiros. Há
cerca de um mês, a instituição iniciou tratativas com o grupo que administra a
Casa de Saúde de Santos e o Hospital San Paolo, de São Paulo. A parceria, que
visa à exploração da atividade de convênios, ainda não foi firmada, mas o grupo
já doou a reforma na fachada e em áreas do pronto-socorro. O HSA tem ao todo
220 leitos para o SUS e 80 destinados a convênios. (A Tribuna)